Se na versão inicial, apresentada no final de 2021, o Governo português já
revelava a intenção de prosseguir a aplicação da PAC privilegiando a
agricultura mais industrializada, concentrando os apoios nos grandes
proprietários de terras e penalizando os pequenos e médios agricultores, na
resposta aos pedidos de explicações e ajustes por parte da Comissão Europeia,
essa opção manteve-se.
Sem qualquer diálogo e auscultação às organizações de agricultores, o
Ministério da Agricultura e da Alimentação apressou-se a apresentar uma nova
versão a Bruxelas, mas só baralhou, voltou a dar e ficou tudo na mesma. Assim,
o PEPAC aprovado pela Comissão Europeia fica muito aquém das necessidades do
país.
Numa altura em que o sector passa por dificuldades sem precedentes, a
aplicação da PAC em Portugal, nos próximos cinco anos, não vai corrigir a
injustiça na distribuição das ajudas[1] e
está muito longe de responder aos desafios ambientais e sociais.
Desde logo, não aplica de forma eficaz a modulação (redução de pagamentos)
acima dos 60 000€ e o plafonamento (limite máximo de ajudas) nos 100 000€. Mas
se o Ministério da Agricultura não tem vontade de enfrentar os “grandes”, já
para os “pequenos e médios” impõe cortes, com o Regime da Pequena Agricultura /
Pagamento aos pequenos agricultores a ser escalonado e reduzido para as
explorações com menos de 2ha. Uma exploração familiar de 1ha que em 2022 receba
1000€, em 2023 vai receber apenas 500€/ano. Se houve passos positivos ao nível
do pagamento redistributivo, estes acabam por ser insuficientes…
A situação dos pequenos e médios agricultores será tanto mais agravada na
medida em que a “nova” PAC não contempla medidas eficazes de intervenção no
mercado, dando mais carta branca à política dos preços baixos na produção e
colocando os produtores à mercê da forte especulação.
Confrontados com uma crise desesperante, com a seca, a escalada dos custos
de produção, os incêndios e sem os apoios necessários do Governo, os pequenos e
médios agricultores vêem agora mais uma oportunidade desperdiçada, contando com
mais cinco anos de uma PAC que lhes tem voltado as costas.
A CNA, que desde o início da reforma da PAC denunciou a insuficiência de
medidas e as más opções do Governo, apresentando propostas concretas para a
correcção das injustiças na atribuição das ajudas, para melhorar o
investimento, promover o rejuvenescimento do sector e valorizar o papel das
mulheres, lamenta e protesta contra o resultado deste processo.
O país precisa de uma política agrícola capaz de defender o rendimento dos
agricultores, de forma a desenvolver e aumentar a produção nacional e a
garantir a Soberania Alimentar do país, a protecção do ambiente e a coesão
territorial e social.
Para esse desígnio, são essenciais todos e muitos mais pequenos e médios
agricultores a produzir e é inaceitável que sejam esses os grandes penalizados
por este PEPAC.
[1] Dados mais recentes do Eurostat revelam que cerca de 70% das ajudas
directas estão concentradas em 7% dos agricultores, os maiores e sem
obrigatoriedade de produzir.